Luciane d’Ornellas

A noção de correto imposta pela tradição gramatical origina preconceitos contra as variações que fogem ao padrão. Crianças cometem esse preconceito e não têm ideia que ele leva esse nome. Satirizam e não toleram o modo de falar do outro.

Segundo o escritor e linguísta, Marcos Bagno, a afirmação de que “a língua portuguesa apresenta uma unidade surpreendente” é um dos maiores mitos existentes sobre o assunto. A diversificação do português falado no Brasil é enorme, mesmo a gramática tentando impor uma norma linguística comum. O status social explica, muitas vezes, a diferença entre os falantes não padrão do português e os falantes da estereotipada variedade culta.

O complexo de inferioridade da população brasileira, em relação ao português falado em Portugal contribui para o preconceito. Para muitos, português certo é aquele falado em Portugal. Na verdade ele é apenas diferente do que aprendemos nas escolas do Brasil.

Saber significa empregar intuitivamente e com naturalidade as regras básicas da língua para se fazer entender. Não implica que é necessário entender de tudo e saber o significado de todas as palavras.

O preconceito linguístico está intimamente ligado ao preconceito social. O fato de uma pessoa ser pobre leva muitos a crer que ela não sabe falar direito. “Cráudia, olha a praca” soa estranho aos ouvidos de quem aprendeu diferente na escola e a palavra é exatamente essa: diferente. Está errado ortograficamente? Sim. Mas cumpriu o objetivo da comunicação.

O Maranhão tem a fama de ter o português mais correto do país por não ter variedades de região para região dentro do estado. As variações surgem de necessidades e, portanto, se necessário a adequação será feita.

Há os que acreditam que o domínio da norma culta é motivo de ascensão social. Não é nada menos que mais uma forma de preconceito linguístico.

Julgar o certo e o errado na língua é normal e frequente, mas o ato de comunicar e de se fazer entender ultrapassa esses julgamentos e permite flexibilidade no convívio social.